Aprenda a identificar ações que paguem bons dividendos e tenha uma fonte de rendimento extra, todos os meses. Se tem algum dinheiro parado, saiba como ganhar dinheiro com dividendos, mesmo que o mercado esteja em queda.
Adoro investir em dividendos. Não requer muito tempo e é de fácil manutenção. É prático, tem um grau de risco moderado se seguirmos alguns critérios e está ao alcance de todos os que querem rentabilizar o seu dinheiro.
Sejamos realistas, quem não deseja ter um investimento com um retorno de 5%-10% por ano?
Ganhar dinheiro com dividendos
“Sem fazer nada, nada é deixado por fazer“, dizia Lao Tzu. Esta frase sintetiza na perfeição a manutenção de uma carteira de dividendos. Para isso, é necessário que não seja criada de forma aleatória mas sim, seguindo critérios bem definidos.
Para melhor entender a estratégia de investimento focada em dividendos, recomendo primeiramente a leitura do artigo saiba tudo sobre dividendos de acões.
Ao aprender a identificar empresas que paguem bons dividendos, está mais perto de atingir a sua independência financeira. De forma a enquadrar os critérios de seleção de empresas que costumo seguir, focarei o artigo nos seguintes pontos:
- Vantagens de investir em empresas focadas em dividendos
- Desvantagens de investir em empresas focadas em dividendos
- Classificação de empresas consoante a distribuição de dividendos
- 6 critérios para seleção de empresas
- Há dividendos bons demais para serem verdade
- Reinvestimento e manutenção da sua carteira
1. Vantagens de investir em empresas focadas em dividendos
Esta estratégia é excelente porque permite, sem esforço, receber dividendos todos os meses. Além disso, tem em média uma rentabilidade 10x superior ao que teria com os depósitos bancários.
Como principais vantagens deste tipo de investimento, saliento as seguintes:
- Reduzido tempo despendido. Apesar de necessitar de algum tempo inicial para investigar as melhores ações, quer pela solidez da empresa, quer pelo histórico de dividendos, a manutenção do investimento requer pouco tempo.
- Paz de espírito quando o mercado está em queda. Com o investimento em dividendos, consegue prever uma fonte de receita anual mesmo que o mercado esteja em queda, não tendo o ímpeto de vender com prejuízo. Seguindo os critérios de seleção de empresas apresentados abaixo, pode ficar mais confiante na geração de rendimento passivo.
Além disso, se o mercado estiver em queda, pode comprar mais ações, e ter assim um dividend yield superior, isto é, mais rentabilidade.
- Fluxo de rendimento mensal. Atualmente tenho investimentos feitos em vários mercados, o que me permite ganhar dinheiro com dividendos todos os meses. Este fator dá-me a motivação para investir mais e aumentar ainda mais a receita mensal.
- Rentabilidades muito superiores aos depósitos a prazo. Entre 0.5% e 5%, há uma diferença considerável. Por exemplo, há empresas a pagar mais de 5%. Consulte aqui a lista das empresas da bolsa de Lisboa que pagam mais em dividendos.
- O investimento alimenta-se a si próprio, como uma bola de neve. Reinvestindo os dividendos em ações que pagam dividendos, está a maximizar a obtenção do lucro através da fórmula dos juros compostos. Ao longo dos anos, o rendimento tende a subir de forma exponencial.
- Potencial de geração de mais valias. Quando se tem ações, os rendimentos de dividendos são apenas uma forma de obter proveitos. Ao alienar (vender) as suas ações por um preço superior ao da compra, obtém mais-valias imediatas, pela diferença entre o valor de compra e venda. Neste caso, tem ainda a vantagem do imposto não estar sujeito a retenção na fonte, podendo reinvesti-lo até que faça a sua declaração de IRS.
2. Desvantagens de investir em empresas focadas em dividendos
- Tem de ter dinheiro disponível para investir. Boa vontade e trabalho árduo não são suficientes. Tem de ter dinheiro próprio (de preferência) para investir.
- Risco de perda parcial ou total do dinheiro investido. Se leu o artigo sobre dividendos, sabe que há sempre o risco de perda parcial ou total. Conheça-se a si próprio, identifique o seu perfil de investidor e avance apenas se tal o deixa tranquilo.
- Investimento “congelado” em caso de queda do mercado. Caso necessite do dinheiro para uma emergência, poderá ter de alienar as suas posições, perdendo dinheiro (vender com prejuízo) e essa é sempre uma opção difícil para qualquer investidor.
- Custo de oportunidade de não investir em empresas com maior potencial de subida. Há empresas com grande potencial de subida, como startups e tecnológicas. Estas costumam limitar o valor do dividendo pago (muitas vezes a 0) mas a probabilidade de haver um evento que catapulte o seu valor, é geralmente elevado. Optando por investir em empresas mais estáveis, poderá estar também a limitar os seus rendimentos potenciais através de uma valorização acentuada dos títulos.
3. Classificação de empresas consoante a distribuição de dividendos
Sendo esta estratégia de investimento focado em dividendos, convém prestar particular importância ao histórico de dividendos das empresas.
Seria um pouco negligente investir numa empresa cujo último dividendo pago foi há 10 anos e ainda assim dizer que adquiriu a ação pelo elevado dividend yield. Mais do que direcionar sobre um mercado ou indústria específicos, e dado que estamos a falar em investimento focado em dividendos, prefiro classificar as empresas entre as que:
- Não distribuem dividendos. Mesmo com reservas de capital elevadas ou bons fluxos de caixa, estas empresas preferem reinvestir o dinheiro no seu negócio. Por exemplo, a Apple só voltou a redistribuir dividendos em 2012, após 17 anos de interrupção.
Incluem-se neste grupo as empresas que não pagam dividendos porque não têm lucros suficientes para o fazer.
- Distribuem dividendos alternadamente. Estas empresas costumam ser bastante irregulares. Ora pagam, ora não pagam e quando pagam, o valor do dividendo pode ser uma fração dos anos anteriores. Por exemplo, os CTT aumentaram o dividendo em 2% em 2017 (de 0.47€ para 0.48€), e em 2018 vão distribuir 0.37€ por ação (-23%), levando a crer que em 2019 será reduzido ainda mais.
- Distribuem dividendos de forma consistente. Fazem-no todos os anos e geralmente nunca baixam o valor do dividendo. Ou é igual ao período anterior ou é superior. Por exemplo, a EDP tem sido consistente a pagar dividendos desde 2000 mas o seu valor tem-se mantido inalterado nos 0.19€ desde 2012 a 2018.
Parece então óbvio que nem todas as empresas nos interessam. Se estamos a criar uma carteira de investimento com base em dividendos, interessa-nos empresas que distribuam dividendos de forma consistente, durante um determinado número de anos, e de preferência que aumentem o seu valor todos os anos.
4. 6 critérios para seleção de empresas
Qualquer estratégia de investimento segue um algoritmo, uma sequência de passos que eventualmente o leve ao sucesso. Este não é excepção! Irei apresentar de seguida os que considero mais importantes e a necessidade de os aplicar, mas sinta-se livre para os alterar, melhorar, restringir ou expandir.
Antes de começar o precesso de seleção de empresas é necessário decidir sobre os mercados em que deseja investir. Se está a pensar investir apenas num mercado, tal poderá tornar-se “aborrecido”, pelo menos em Portugal, uma vez que só recebe dividendos, em geral, uma vez por ano.
Incluindo outros mercados bolsistas, além de diversificar o investimento, aumenta a probabilidade de ter um fluxo de rendimentos mensal. Empresas como a Degiro, tornaram bastante acessível o investimento nos mercados americano e europeu, com taxas de corretagem relativamente baixas.
Critério #1: Tenham um dividend yield entre 4% e 8%
Pessoalmente, gosto de escolher empresas com dividend yields acima de 5% mas dependendo do mercado, poderá não ser uma opção. Rendibilidades mais elevadas, acima de 8%, podem não ser sustentáveis a médio ou longo prazo.
Critério #2: Não tenham um payout acima de 75%-80%
Quanto menor o payout, sendo tudo o resto igual, maior a probabilidade da empresa continuar a pagar-lhe os dividendos. Se a empresa paga o total dos seus lucros, fica sem capital para reinvestir no próprio negócio. Ou pior ainda, pode estar a endividar-se para deixar os acionistas felizes.
Critério #3: Sejam sólidas e que tenham um histórico de muitos e bons dividendos
Uma empresa que paga consistentemente dividendos ao longo dos últimos 20 anos, tem uma probabilidade elevada de o continuar a fazer nos anos vindouros.
Por exemplo, a empresa F.Ramada tem um bom histórico de dividendos desde 2010. Entre os fatores positivos na análise dos dividendos, destacam-se:
- 8 anos de pagamento consecutivo de dividendos
- 7 anos de pagamento consecutivo em que o crescimento do dividendo foi sempre positivo
- Taxa de crescimento anualizada ao longo dos últimos 7 anos de 24.62%. Significa que o dividendo aumentou em média, cerca de 25%, todos os anos.
Por outro lado, o histórico de dividendos da Novabase parece uma montanha russa. Apesar de ter também pago anualmente dividendos desde 2010, nunca sabemos bem com o que podemos contar no próximo ano. É este grau de incerteza que desejamos excluir nas empresas que selecionamos.
Critério #4:Não estejam demasiado endividadas
Sabemos que a dívida não controlada leva facilmente empresas à falência. Analise a dívida de curto e longo prazo. Tenha em atenção indicadores de “Current Ratio” e “Debt/Equity”.
Critério #5: Tenham bons indicadores fundamentais e modelos de negócio robustos
Rácios como o PE (Price/Earnings), Return on Equity, Price to Book, entre outros, poderão dar uma visão mais realista da robustez da empresa. Entre a EDP e a Compta, há diferenças significativas que tornam a primeira num investimento mais seguro.
Sobre análise fundamental, recomendo o website Buffet Books com o curso gratuito “How to invest in stocks“. Aqui poderá aprender sobre os principais indicadores fundamentais e como calcular o valor intrinseco das empresas. Definitivamente, vale a pena.
Critério #6: O preço da ação siga uma tendência positiva
Pessoalmente, não faço análises técnicas. Acredito que é sempre possível justificar ou encontrar um padrão após algo ter acontecido. No entanto, acho a tendência de um determinado título extremamente importante.
Se o título que vai comprar está em queda há vários meses, tem mesmo a certeza que o quer comprar neste momento? Não seria melhor esperar que a tendência se inverta?
Por exemplo, tenho ações sobre uma empresa e estava a ponderar reforçar o investimento, até porque o dividend yield ficou ainda mais atrativo. No entanto, quando observo o preço dos títulos durante o último ano, tal não me deixa confortável uma vez que o título continua a perder valor continuamente. Se eu tivesse comprado há 3 meses atrás, o valor do investimento já teria caído para metade.
5. Há dividendos bons demais para serem verdade
Por vezes, ao analisar as empresas deparamo-nos com dividend yields muito bons, ou melhor, demasiado bons para serem verdade.
E como se costuma dizer, se algo é demasiado bom para ser verdade, é porque provavelmente o é. Analise mais aprofundadamente a origem das rentabilidades elevadas.
Há vários casos que poderão originar dividend yields elevados ou pior ainda, a perceção que estes são elevados. Poderá haver pequenas variações, mas os dois casos exemplificados abaixo, permitir-lhe-ão estar mais atento a estes fenómenos.
Caso #1: Dividend yield é real mas extraordinário
Apresentando o caso real da F. Ramada:
- Lucros cresceram 4x em 2017;
- Dividendo proposto na Assembleia de Acionistas é 8 vezes superior ao do ano anterior.
- A ser aprovado e para quem comprar ações à data de hoje, obtém uma rentabilidade de 17.42% (considerando o preço da ação de 12.8€ e o valor do dividendo proposto de 2.23 €). Acompanhe o dividend yield da F. Ramada aqui.
Wow, +17% em dividendos é excelente… se estes forem consistentes, ano após ano.
Se investigarmos um pouco mais, iremos constatar que o payout é relativamente superior a 100% e que houve mais valias consideráveis pela venda do grupo Base.
Ora, mesmo que a empresa continue os excelentes resultados que teve, é muito provável que não consiga manter o valor do dividendo. Afinal não se vende empresas todos os anos, e não se consegue pagar em dividendos, e de forma sistemática, o montante total de lucros.
Podemos concluir que para este período, consegue uma rentabilidade de dividendo extraordinária. No entanto, a sua projeção para os anos seguintes deve ser muito mais conservadora, muito provavelmente seguindo a tendência dos anos anteriores.
Nada o impede de comprar ações e obter uma rendibilidade de 17% mas é bom saber que este é dificilmente sustentável para os próximos períodos.
Caso #2: Dividend yield não é real
Imagine que está a analisar o histórico de dividendos de uma determinada empresa e que este tem sido de 1.00€ durante os últimos 10 anos. Ao consultar o preço da ação, vê que este tem um valor atual de 10€. O dividend yield será “eventualmente” de 10%, uma vez que ainda não sabe exatamente o valor que será aprovado para o próximo período. Como está confiante na sua análise, decide comprar.
Mais tarde, a empresa apresenta o dividendo a pagar e este é de 0.22€ por ação. Desiludido, tenta entender o porquê da empresa pagar muito menos do que nos anos anteriores, quando os lucros até aumentaram. Afinal, em vez de receber 10%, vai receber apenas 2.2%. Bolas, já não vai conseguir financiar as próximas férias.
O que correu mal?
O histórico do preço da ação, tal como o histórico de dividendos também deverá ser analisado. Neste caso, houve um stock split de 1:5, i.e. cada ação foi convertida em 5 novas ações, o que diluiu o valor da empresa por mais ações. Nada mais mudando, e considerando que a empresa vai continuar a pagar o mesmo valor total em dividendos, esses 1€ serão distribuídos por 5 ações, sendo que o valor do dividendo por ação é de 0.20€ e não de 1€.
A projeção do dividend yield de 10% foi erroneamente calculada. Apesar da empresa ter aumentado o seu dividendo em 10% (de 0.20€ para 0.22€ ), o seu valor está muito abaixo do que o investidor esperava.
Mantenha-se atento para situações idênticas. Analise a tendência de rentabilidades dos anos anteriores para minimizar o erro das suas projeções.
6. Reinvestimento e manutenção da sua carteira
Agora que tem a sua carteira de investimento criada, é esperar que as empresas coloquem dinheiro na sua conta. Se fez uma análise criteriosa na seleção de empresas, não deverá necessitar de muitas alterações.
Como manutenção da sua carteira, sugiro que:
- Reinvista todo o valor obtido em rendimentos. Tal gerará mais valor, propiciando-lhe mais e mais rendimentos;
- De tempos a tempos, analise se há empresas que tenham uma melhor combinação de dividend yield e robustez. Lembre-se que mesmo 1% de diferença todos os anos, tem um grande impacto em 10-15 anos.
- Por vezes, há empresas cujo preço sobe muito e rapidamente. Em determinadas alturas pode ser benéfico vender com uma mais valia de 20% do que manter a empresa com um dividend yield de 4% anual. Vendendo, poderá comprar outras ações com um dividendo superior e também com potencial de subida superior.
Agora que já sabe como investir em dividendos, qual a primeira empresa na sua carteira de investimento?
Boa noite Sergio. Antes de mais obrigado pelo trabalho que tem dedicado a este site, com informação de muita qualidade.
Em relação ao reinvestimento dos dividendos para comprar mais ações, o valor que é reinvestido é apenas 72% do dividendo por causa do imposto certo? Portanto ao longo dos anos acha que compensa um estratégia focada em dividendos, uma vez que se perde 28% de cada dividendo logo para o estado?
Boa noite João, O facto de serem retidos imediatamente 28%, creio que não será o principal motivo pelo qual a estratégia de dividendos poderá fracassar. Se receber dividendos, por exemplo, do Reino Unido através da Degiro, não é geralmente retido qualquer valor. O dividend yield, e a consistência de pagamento são muito mais importantes. Não interessa muito reinvestir 100% do dividendo que tem uma rentabilidade de 1% ao ano ou cujo valor da ação está a descer a um ritmo elevado. Por outro lado, se comprar um título que lhe dê 7 ou 8% e a empresa é estável e… Read more »